UBER CHEIRA A ODEBRECHT.

"UBER CHEIRA A ODEBRECHT

Peço, antecipadamente, desculpas aos taxistas que me seguem. Tenho acompanhado as providências do Crivella sobre o sistema de táxis cariocas e o que vejo é a prefeitura concedendo pequenas esmolas aos taxistas, esmolas disfarçadas em grandes atitudes, como se fossem valiosos benefícios à classe. Não são. Criar aplicativo, tombar os táxis como patrimônio da cidade, permitir o tráfego em calhas do BRT, nada disso vai amenizar os atuais prejuízos dos taxistas, que irão continuar minguando diante de uma concorrência ilegal permitida por negligência da Justiça. Em nenhum momento o Crivella se coloca de forma crítica contra essa concorrência desleal e sem regras, em nenhum momento ele questiona o Judiciário pela demora em quase 2 anos para decidir o que pode ser feito. Na verdade, hoje o executivo e o legislativo são meras gravuras num livro que quem escreve são juízes e desembargadores. Pelo contrário, o Crivella afirma que está dando ferramentas para igualar os táxis à qualidade de aplicativos como o Uber? Que qualidade? Será que o Crivella está se guiando pelos jornais que não informam sobre as 40 mil denúncias que o Uber possui em sites como o Reclame Aqui? Denúncias que seguem numa espiral crescente, acompanhando o derrame incontrolável de carros particulares fazendo serviço de táxi nas ruas da cidade, sem nenhum controle ou fiscalização que garanta ordem urbana e segurança de usuários.

O mais lamentável é constatar grupos de taxistas felizes com as esmolas da prefeitura pentecostal, como se fossem mendigos sem esperança, no frio, ganhando um cobertor que não cobre os pés.

Que poder é esse dessas empresas estrangeiras? Que tipo de influência elas cultivam que dobra juízes e governantes a sua vontade? Por que se aceita que elas atuem acima das leis, do código de mobilidade urbana? Por que se permite que elas não tenham controle, fiscalização? O que está acontecendo?

Vejo alguns representantes da categoria cobrarem autonomias para os atuais auxiliares. Sinceramente, de que adianta lançar mais amarelinhos nas ruas numa realidade em que ninguém mais está conseguindo ganhar nem para pagar seus compromissos pessoais? Licenciar mais gente para sofrer e fazer sofrer quem já está sofrendo, para quê? Antes de tudo é preciso dar solução ao caos que a competição sem controle está gerando para a cidade, competição que só favorece a mentira da livre iniciativa. Outra falácia é ignorar que motoristas de Uber e outros aplicativos são, na verdade, taxistas. E a profissão de taxista é regulamentada, exige deveres, quem quer exercê-la precisa se habilitar e cumprir regras. Disfarçar uma profissão regulamentada com o nome de motorista particular de aplicativo é uma mentira deslavada.

Não vou negar, fico indignado com taxistas que sorriem para as esmolas que recebem, que querem pregar resignação e simpatia a uma prefeitura que continua se omitindo diante da raiz do problema, uma prefeitura que teme afrontar esses aplicativos estrangeiros. O Uber está se tornando um grande patrocinador da Globo e de outros veículos de mídia. Com isso, a Globo e outros grandes veículos perdem a isenção, não vão mais questionar os abusos e delitos de um patrocinador robusto. Continuarão a saga de crucificar os taxistas e entregar o mercado de táxis às mãos sujas do mercado.

A conclusão é que não mais serei cúmplice dos taxistas resignados, desses que estão aceitando caridade, dos conformados, dos partidários políticos. Se algum rebelde me estender a mão, é a ele que vou abraçar, é com ele que vou gritar. Não me venham com ilusões, com mentiras sinceras. A luta precisa de coragem, de verdade. Quem reza por cartilha, termina ajoelhado no milho."

Alexandre Coslei
Jornalista.